Inferno Estelar
Sinopse ( provisória): Em 3579, a Tríade ( união dos mundos de Júpiter, Netuno e Plutão em uma
sociedade poderosa) e o planeta Saturno iniciam uma disputa ideológica que
parece ser o prólogo de uma guerra espacial envolvendo sistemas solares
distintos e o controle de dezenas de galáxias. Em meio a tudo isso, os três
irmãos Pendragon ( um engenheiro genético, um hacker e um Papa ex - presidente
da China), herdeiros de uma rica família nordestina, tomam consciência de que
podem interferir no destino do Universo graças ao segredo que possuem e pedem a
ajuda de um mutante, uma atriz alienígena e uma professora de ciências
políticas para viajar por dimensões paralelas e enfrentar um diplomata
maquiavélico que semeia a discórdia no espaço.
Capítulo 1
O engenheiro genético
brasileiro Immanuel Judas Pendragon estava em um cyber café no
planeta Uthopys, perto da sede da
Sociedade Galáctica. O cyber era muito frequentado por diplomatas e políticos
alienígenas dos mais distantes planetas,
que geralmente tinham uma participação importante nas assembleias da Sociedade,
o órgão que trabalhava para a harmonia, paz e resolução dos conflitos
entre 144 milhões de planetas,
localizados em trinta e três mil galáxias, há incontáveis éons.
Mas tudo isso era a teoria, o que era ensinado nas escolas
terráqueas e pela Internet desde o dia praticamente imemorável da visita dos
uranianos ao planeta azul. Immanuel sabia, que, na prática, o que a Sociedade
fazia não tinha a nobreza que os políticos atuantes lá queriam demonstrar.
Era exatamente por isso que Pendragon estava em Uthopys.
_ Boa rotação, doutor Pendragon – cumprimentou – lhe em
mercuriano o diplomata goblinense que se deitou ao seu lado no tapete feito de
seda persa e nanorrobôs .
_ Boa rotação, senhor Hashdoo – Judas devolveu o cumprimento
na mesma língua.
_ Como está seu irmão, doutor ? – perguntou seca e
falsamente em português Hashdoo, depois de pedir educadamente um energético
Xorever em linguagem de computador para a garçonete – robô mais próxima.
_ A saúde do meu irmão não lhe diz respeito, senhor –
sussurrou irritado em sombrak o engenheiro. _E prefiro conversar em sombrak até
sairmos do cyber.
_ Muito bem dito, reencarnação de Mendel... ambos sabemos
que nós não estamos aqui para falar desta situação fraternal amaldiçoada –
falando em sombrak e deixando de ser prolixo, Hashdoo empinou seu nariz verde
de goblinense e deu um papel reciclado com parágrafos e mais parágrafos
escritos em Código Morse a Immanuel, logo após abrir a lata de energético que a
garçonete – robô lhe trouxe e pedir à mesma um charuto bacense e a senha do wi
– fi.
O terráqueo leu o papel, começou a mascar um chiclete de
maconha e cochichou:
_ Por gentileza, Hashdoo, não use sua mutação contra mim.
_ Ás vezes minha visão não intencional sobre as vidas
passadas dos seres me domina. Peço desculpas, Pendragon. Voltando ao nosso
problema... certamente você já sabe que vinte e cinco galáxias se aliaram a
Saturno e estão contra a Tríade, ou estou enganado ? – a perigosa e metódica
calma de Hashdoo era incoerente com o fato de ele estar tomando um energético.
Immanuel deu de ombros mentalmente. Goblinenses eram absolutamente
incompreensíveis.
_ Não. Sei também que quer minhas teses para ajudar a
inverter o rumo da guerra, como este papel me conta, mas já afirmei que
respeitarei a privacidade da família Pendragon. – o engenheiro fingiu distração
e excesso de confiança, querendo terminar o assunto rápido.
_ Se estivesse tão certo disso, não estaria em Uthopys nem
estaria tendo esta conversa que claramente te deixa tão desconfortável. Ambos
temos consciência que você redigiu as teses bêbado, mas utilizando todo o
conhecimento científico que tinha. Divulgar estas para qualquer um dos lados,
seja Saturno ou a Tríade, afetaria profundamente suas relações familiares, mas
todos os seus irmãos já estão tomando partido na guerra, principalmente o...
enfim, era só uma questão até que você fosse forçado a escolher qual ideologia
ajudará. – o diplomata sorriu como um gato que encurrala um rato.
_ O meu segundo nome é o do maior traidor da História Solar.
No entanto, quem só olha para o próprio umbigo é você. Não tomarei partido. E
já aconselhei meus irmãos a fazerem o mesmo. Jogue esse papel no buraco negro a
oeste de Uthopys, Distribggogramêõ – Kcuf Hashdoo –
Wofista Alzheimer, pois isto só lhe servirá se for para limpar a bunda
depois de se cagar quando a Tríade colonizar o sistema solar da sua porcaria de
empresa bélica e provar ser tão podre de alma quanto o arrogante do rei de
Saturno!!!!!!!!!! – berrou Judas, batendo no olho de Hashdoo com o charuto
bacense e rolando para fora do tapete.
_ Immanuel, a Tríade está defendendo a democracia... –
titubeou o diplomata, enquanto o engenheiro recolhia seu nanocomputador da
escrivaninha onde deixara e procurava moedas de 1 real no bolso para pagar a
conta dos chás de limão que bebera antes do goblinense chegar.
_ Eu sou favor da democracia, porém o nordeste brasileiro
não tem a ver com os jogos políticos de Netuno, Plutão e muito menos de
Júpiter! Você deveria ter procurado a Senhora Representante da Terra na
Sociedade, Hashdoo!!! – Judas esqueceu – se de falar em sombrak naqueles
instantes, e sem querer falou em português. Houve um coro quase ritmado de
exclamações emitido pela aglomeração de políticos anônimos lendo ordens
judicias no cyber, ao mesmo tempo em que as garçonetes – robôs pediam em
linguagem de computador que os seres divergentes se retirassem.
Ignorando os pedidos insistentes, o antes calmo
Distribggogramêõ – Kcuf arremessou um
nanoteclado no estômago do brasileiro, que vomitou chá de limão e tirou um
aljava de flechas laser da calça jeans enquanto ouvia Distribggogramêõ gritar em russo:
_ O amaldiçoado do seu irmão é o primeiro e único Papa
homossexual assumido, ex – presidente da
China e com leucemia radioativa que a
Via Láctea já conheceu, seu cagão desgraçado!!! Ele interfere na política de
incontáveis galáxias, é tão desgastante entender ?!!! A doença dele é uma arma
biológica, seu vagabundo! Venceremos Saturno com uma cópia dela, goste Vossa
Santidade ou não!!!!! E o seu outro irmão
é um hacker que pode desprogramar...
_ Platão não vai cancelar as enzimas artificias... – já
começava a interrompe –lo na mesma língua Judas, quando quarenta e nove
policias – robôs invadiram o cyber e agarraram os dois, levando –os para uma
viatura e confiscando a aljava do engenheiro.
Um dos robôs os jogou no veículo, acessou o disco rígido
deste e em poucos minutos o terráqueo e o goblinense estavam sendo levados à
delegacia da capital de Uthopys.
Uma coruja piou em
meio à escuridão. O velho Aquiles Wyr acordou com o barulho. Rolou, se sentou e
desceu da cama, praguejando em meio a gemidos de dor. Apoiou –se na bengala e
caminhou até a janela. Ao chegar, se pôs a observar em silêncio a coruja. Ficou
nessa inércia ninguém sabe por quanto tempo. Sentiu as pálpebras pesarem
novamente e olhou o relógio que o tio lhe dera. Eram 11:21 da noite de 10 de
janeiro do Ano Metamorfo e ele estava em Campo Grande, sua cidade natal. Esse
extenso pensamento o deixou muito feliz.
Ouviu o Rolex bipar. Digitou os nomes de todas as suas sete
mil reencarnações na tela piscante do relógio e viu a mesma se apagar. O objeto
vibrou em seguida e ela reacendeu, mostrando o discípulo mais querido do idoso
numa cela de prisão uthopysana.
_ O que aconteceu, Distribggogramêõ ? – perguntou espantado o
velho ao discípulo.
_ O irmão teimoso do Papa brigou comigo, duque Wyr. –
respondeu ele, enquanto engolia o caldo dianaense que um carcereiro grifo lhe
dava.
_ Se metendo em brigas por causa da Tríade novamente ? –
indagou Aquiles.
O discípulo não respondeu, sabendo que aquela era uma
pergunta retórica. Se limitou a bebericar o caldo e suspirar.
Prevendo uma rangida de dentes por parte do outro, o idoso
resolveu falar sobre um assunto mais ameno:
_ Você sabe se a Marilyn se apresentou em Baco ?
_ Sim, ela se apresentou e a peça foi um sucesso. Aquele
febollense crítico de arte disse que as habilidades teatrais dela são
superiores às de Mei Pasteur. – relatou Distribggogramêõ, sorrindo.
_ Esses terráqueos... sempre surpreendendo. – comentou o
duque, enquanto Hashdoo começava distraidamente a mascar um chiclete de
maconha.
_ Você fala como se não fosse um deles, duque Wyr. –
observou Hashdoo, perspicaz como sempre fora.
_ No tangente a me identificar culturalmente, nunca serei,
Distrib. Fui criado em Susanoo, um planeta diferente em uma galáxia
exponencialmente distinta. – ciente de que o discípulo admirava obsessivamente
apelidos e eloquência, fazendo jus à fama da raça goblin, Aquiles usou esses
artíficos para mudar de assunto.
_ Jardim do Éden não é uma galáxia tão diferente de Via
Láctea, duque Wyr. As únicas diferenças marcantes são a política, os fenômenos
geológicos dos planetas e a infestação dos demônios – do – petróleo, aqueles
dragões envenenadores que os plutonianos soltaram. – disse Distribggogramêõ, insistindo em manter o
assunto.
_ Fala o óbvio, mas se esquece dos apocalipses zumbis que
dizimam civilizações todo Haloween. – lembrou irritado Aquiles.
_ Agradeça à Força Maior que isso ainda não aconteceu com
Susanoo, meu queridíssimo mestre. - murmurou Distribggogramêõ de modo
misterioso, enquanto abria uma garrafa de vinho bacense.
_ O que quer dizer com isso ? – o idoso se assustou, a
bengala caindo no chão e a coruja se sobressaltando com o barulho, tudo ao
mesmo tempo.
“ Frequência cardíaca
aumentando, avisou em japonês o nanorrobô no cérebro dele, tenha cuidado e aceite a sugestão da Peach
Industries de pegar um cardioremédio de nível 999”
_ Quero dizer que se o senhor não convencer o Conselho de
Segurança dessa denominada galáxia distinta a apoiar a Tríade, todas as
civilizações existentes em Susanoo serão dizimadas. Eu sequestrei Immanuel e
seus dois irmãos e forcei Platão a hackear as máquinas plutonianas para ter
acesso à receita do vírus. – limpando o vinho prateado dos lábios verdes com as
costas da mão púrpura enquanto sussurrava o pior pesadelo do mestre,
Distribggogramêõ se sentia extremamente satisfeito.
“ Frequência cardíaca
aumentando muito, novamente avisou em japonês o nanorrobô no cérebro de
Aquiles, tenha cuidado e aceite a
sugestão da Peach Industries de pegar um cardioremédio de nível 1000”
Antes de tudo se tornar escuro, o duque mutante Aquiles Wyr
visualizou na tela do Rolex o homem a quem ensinara como controlar a mutação
que fazia eles saberem todos os detalhes das reencarnações passadas de todos os
seres do Universo, o homem a quem adotara quando criança, o homem que se casara
com sua filha, o homem que o ajudara a ganhar o prêmio terráqueo Nobel da Paz
vinte vezes seguidas, o homem que fora a razão de ele ter largado o consumo da
droga grifana Lekyg, o homem que lutara a seu lado em inúmeras batalhas contra
piratas espaciais, o homem que o estimulara a pedir em casamento seu falecido
marido Heleno Pasteur, o homem que escrevera poemas sobre paternidade para ele,
o homem que o salvara de atiradores de elite marcianos, o homem que ajudara sua
sobrinha a se formar em Ciências Políticas, o homem que fizera todos os
planetas membros da Sociedade Galáctica legalizarem o casamento homossexual,
bissexual e transexual em seus territórios por causa dele, o homem que fora ao
mesmo tempo seu céu e sua terra, sua razão de continuar vivendo nocautear com
um bastão elétrico o carcereiro que ouvira a conversa deles e gritar “ Sua
morte virá pelas minhas mãos, duque campo – grandense!” enquanto batia de modo
maníaco com a garrafa de vinho nas paredes da cela.
_ “ Hospital Amaterasu Para Imigrantes Não – Terráqueos” –
leu em português Marilyn Pasteur Wyr Hashdoo
– Wofista Alzheimer.
_ É aqui, né ? – quis confirmar Mei Pasteur, que de modo
agitado mexia na bolsa Dolce & Gabbana cheia de SE – books de faculdade. _ É aqui que o tio
Calcanhar foi internado, né Ma ?
_ Cala a boca, priminha – sussurrou a outra, acendendo um
cigarro. _ Você é uma professora de Ciências Políticas e atriz ou uma
investigadora de filme ?
_ Calma – pediu Mei. _ Paz e amor, por favor. Desculpa se
estou tirando teu precioso foco, porém suponho que você não precise abrir a
porta desse lugar com poderes telepáticos minervenses!
_ Por que ? – perguntou Marilyn, já no segundo cigarro.
_ Porque você é a filha única de um duque que está nesse
hospital, vadia! É só berrar e um enfermeiro – robô vai te dar todas as
informações necessárias e um suprimento
vitalício de remédios da Peach Industries! – gritou desesperada Mei.
_ Aqui é Campo Grande, priminha. Ninguém me conhece aqui. –
murmurou Marilyn, no fim do terceiro cigarro.
_ Engano seu, cacete! Você se apresentou lá na casa do
caralho e essa megalópole é mais globalizada que o primeiro dos dez mil países
de Júpiter! – urrou a professora, deixando a bolsa cair.
_ Vou tentar, desde que você pare de agir como... você
entendeu, está chamando atenção demais para a gente! – gritou Marilyn
hesitante, terminando de fumar o quarto cigarro, jogando a bituca dentro da
bolsa da prima e batendo na porta do hospital.
Foi como Mei dissera. Depois de colocar o suprimento de
remédios em um táxi, a atriz ouviu o enfermeiro – robô recitar na língua nativa
dela absolutamente todas as informações que tinham sequer uma ínfima relação
com a saúde de seu pai, que era vigiado por Mei, nove médicos febollenses, uma
médica stariana, duas anestesistas venusianas, três seguranças marcianos e 55
enfermeiras – robôs enquanto estava dormindo sedado por remédios israelenses na sala de cirurgia mais completa do lugar.
_ Pelo menos ele estava no trailer onde morava... – suspirou
aliviada em minervense Marilyn para o enfermeiro – robô. _ Só não entendi o que
vão fazer na cirurgia.
_ Vão colocar um coração artificial no sr. Wyr, senhora.
Quando o encontraram desacordado na semana passada, esse músculo tinha sido
incendiado automaticamente pelo nanorrobô
Niarb que estava instalado no cérebro dele desde os 45 anos. Segundo o
nosso tecnologista – chefe, o Niarb optou por fazer isso para parar o aumento
da frequência cardíaca do paciente. A programação do Niarb detectou o início de
um colapso nervoso em Aquiles, mesmo tendo avisado previamente duas vezes sobre
o aumento da frequência cardíaca e sugerido cardioremédios da Peach Industries
de nível 999 e 1000. – explicou a máquina, automaticamente coletando os dados
da reprogramação que fizera em si mesma minutos antes para falar a língua
nativa dela, e desse modo voltando a conversar em minervense.
_ Entendi. Muito obrigada, enfermeiro. – agradeceu Marilyn em meio a goles do suco
de Porgitad, uma fruta stuquliperwiense de gosto salgado, que era servido no
Amaterasu.
_ Preciso adicionar um adendo ao que reportei, visitante 79
do dia. – avisou o enfermeiro – robô enquanto lia o número no Registro de Visitantes
do banco de dados virtual do hospital.
_ Prossiga – pediu ela, sentindo uma irritante gota de suor
escorrer pela testa porque imediatamente pensou que o adendo poderia trazer
mais notícias ruins.
Ele assentiu com a metálica cabeça e disse:
_ O nosso tecnologista – chefe também relatou que o Niarb
registrou que a frequência cardíaca do sr. Wyr
começou a aumentar quando ele viu algo em seu Rolex.
_ Alerta! Deep Web desmoronando! Feudalismo virtual em perigo! – berrou a voz
robótica nos alto-falantes do Cisne Negro.
_ O que a gente faz, lorde Platão ?! - perguntou Angelina Shoe, enquanto pintava
as unhas de um robô travesti de rosa e atirava em ratos com sua AK47.
_ Pega os pergaminhos! – berrou Platão Aço Wi –fi Pendragon,
um pouco desesperado.
Cavalos trotavam e a
chuva poeirenta caía naquela megalópole do sudoeste do planeta Cwtrlier.
Fazendeiros e fazendeiras terráqueos, yjafaws e marcianos supervisionam seus
escravos zloffexus no plantio de Lekyg enquanto seus cônjugues jogavam xadrez binário
nas varandas de suas luxuosas mansões em frente às lavouras. Essa rotina
característica do lugar foi quebrada quando uma espaçonave luxuosa mas ao mesmo
tempo discreta atravessou a atmosfera e pousou nas lavouras.
_ O que está acontecendo ? – perguntou falando em mercuriano o yjafaw
Qwertyuiopasdfghjklzum Nbvcxill para seu
marido Tes Kwah, marciano e o fazendeiro
mais abastado do planeta, enquanto interrompia seu movimento para capturar as
peças de sua oponente.
_ Não faço ideia, Qwerty. – respondeu Tes sussurrando
enquanto ordenava que seus escravos parassem o plantio por meio de sinais com o
chicote de couro de demônio –do –petróleo. Os outros fazendeiros, que como ele
também observavam a porta da espaçonave se abrir lentamente, imitaram o gesto e
em instantes todos os escravos estavam estáticos, aproveitando para descansar
enquanto esperavam a próxima ordem em postura de soldado.
Quem saiu da espaçonave foi um brasileiro que evidentemente
era do nordeste do país, fato facilmente notável pelas suas características
físicas. Entretanto, o homem se vestia como um típico vevolutionlandense, com
roupas rasgadas de tonalidade cinza – metálica com pontos coloridos e o símbolo
do pergaminho com as leis da robótica rasgado presente no chapéu em forma de cérebro
junoh e sem sapatos. Além disso, exibia as tatuagens que se dizia que todo
verdadeiro patriota de Vevolution Land deveria ter:em toda a extensão dos
braços e das pernas o desenho de um cérebro junoh se fundindo com o desenho de
um coração humano rodeado por desenhos
de imãs, placas –mãe de computadores e cérebros robóticos.
O brasileiro também usava óculos de fundo de garrafa e sua
cabeça era raspada a navalha e fios de seda da cor rosa enfeitavam seu bigode
pintado de preto – carvão, obedecendo à atual moda presente na Alemanha e no
Japão.
Em sua testa estava marcada a ferro quente a fórmula de
Bháskara e seu nariz era notavelmente quebrado. Por cima da vestimenta cinza,
usava um jaleco branco de cientista manchado de produtos químicos com muitas
ferramentas de marcenaria, anotações escritas em francês em papel reciclável e
peças de computador nos bolsos sujos de café, energético Xorever e cerveja
bacense. Ele também manuseava de modo compulsivo, incessante e irritante um
microcomputador da marca inglesa Alien Alliance Macrosoft 42.
Ao vê –lo, todos os fazendeiros, cônjuges e escravos fizeram
uma reverência, com os narizes quase tocando o solo das lavouras.
O nordestino deu um riso tenso e limpou sua testa úmida de
nervosismo com um lenço sujo de iogurte bacense. Em seguida falou em francês:
_ Vamos, pessoal, vocês sabem que eu fico constrangido com essas formalidades e
mesuras. Não sou nenhum rei, presidente ou Senhor Representante de nada.
Todos se levantaram no mesmo instante, e isso visivelmente
deixou ele ainda mais constrangido. Segundos de pura hesitação se passaram
entre o reverenciado e os reverenciadores, até que Tes Kwah perguntou também em
francês:
_ A que devemos esta tão agradável e inesperada visita, lorde Platão Pendragon
?
Ele pôs as mãos nos bolsos antes de responder:
_ Hmmm... fico constrangido de ter que responder isso porque não quero
preocupar vocês, mas... Distribggogramêõ – Kcuf Hashdoo –
Wofista Alzheimer sequestrou meus irmãos Immanuel e Friedrich depois de
fazer o mesmo comigo e me obrigou a hackear as máquinas plutonianas para ter
acesso à receita do vírus causador dos apocalipses zumbis em Jardim do Éden. Segundo informações
que minha assistente conseguiu em Minerva, ele ameaçou o duque Aquiles Wyr de
que dizimaria todas as civilizações existentes em Susanoo caso o idoso não
coagisse o Conselho de Segurança de Jardim do Éden a apoiar a Tríade. Wyr quase
morreu ao ouvir isso, mas agora tem um coração artificial, passa bem e está
morando com a filha e a sobrinha em São Petersburgo. Eu consegui fugir do
cativeiro que Hashdoo montou, mas infelizmente meus irmãos ainda estão presos.
Como era de se esperar, além de fazer eu recair no alcoolismo, o sequestro de
Friedrich coloca em crise o Vaticano, a China e o resto da Via Láctea. E como
se não bastasse, a Deep Web foi crackeada, o feudalismo virtual corre perigo,
meus vassalos estão desesperados e minha base de operações, aquele navio
chamado Cisne Negro, pegou fogo e mais de 980 funcionários e amigos morreram
carbonizados. Por isso, preciso da influência de vocês para tentar dizer à
Tríade que apesar de ser um lorde, apoio a democracia assim como eles e estou
sinceramente disposto a abrir mão de meu título de nobreza virtual e anular os
de meus vassalos em troca de Susanoo não acabar e meus irmãos serem libertados.
Nove dos meus treze filhos estão morando lá junto com minha esposa e meus sete
enteados , isso não pode acontecer. E Jardim do Éden não vai apoiar a Tríade,
vocês sabem que eles já se declararam extremamente neutros em relação a essa
situação há meses. Outro fato horrendo é que Hashdoo quer as teses de Immanuel
sobre leucemia radioativa para usar como arma biológica.
_ Entendo sua angústia, milorde... mas não será possível
ajuda –lo, porque a nossa galáxia já decidiu apoiar Saturno. Sentimos muito por
esse empecilho, porém não temos condições de contrariar uma decisão unânime de
todos os planetas de Grifo. – explicou Kwah, com uma falsa expressão de
resignação relutante no rosto.
Uma fúria reprimida surgiu no rosto de Platão enquanto ele
sussurrava:
_ Vocês se mantém inertes nesse pesadelo coletivo porque se
envolver com um futuro aliado da Tríade os imposssibilitaria de lucrar com a
venda de Lekyg para o Burundi e as galáxias do Ducentésimo Sistema Solar, não é
? Bom, tudo bem. As consequências serão ruins para Cwtrlier, asseguro –os
disso. Nos vemos em breve, plantadores de drogas.
O hacker virou as costas para os fazendeiros, entrou na
espaçonave e saiu do planeta.
O Castelo Oval Angelical era o lar dos monarcas de Saturno desde
três mil anos depois do Big Bang e onde atualmente vivia Nosreg Xcivokleklebiu Iccudnal, o rei saturniano de 490 anos de
idade. Esse estava no seu labirinto de escritórios , misturando produtos
químicos, pó de meteorito e plantas saturnianas, quando suas filhas gêmeas
entraram pela porta triangular do local.
_ Boa rotação, Ubberosajulietixal e Fatlokipaladarel
queridas – cumprimentou o rei, parando o que estava fazendo.
_ Boa rotação, pai – sorriu Ubberosajulietixal.
De repente, Fatlokipaladarel começou a chorar. Ciente das
tendências depressivas da filha, o rei
apertou usando a ponta de sua unha roxa em forma de trapézio um botão
laranja em sua mesa de aço junoh para chamar a robô – enfermeira que sempre lhe
dava os antidepressivos.
Ela literalmente chegou em centésimos de segundo.
Fatlokipaladarel preferia tomar seus remédios imersa em água quente, por isso
entrou no banheiro do pai para usar a jacuzzi que ele comprara na Terra.
Capítulo 2
O historiador Ariano Noé Dichardson Silva X tinha acabado de
sair de Drummond, sua terra natal. Era um vilarejo independente em Susanoo, de
economia agropastoril e fundado em 2222 por poetas brasileiros que tinham
fugido de mochila a jato da Terra
durante a Guerra dos Índios Uranianos, um conflito de proporções mundiais
entre a organização anarquista Izanagi (formada por alguns soldados do exército russo que eram os únicos filhos
mestiços de imigrantes uranianas e índios brasileiros existentes em todo o
sistema solar) e os atuais países do G8 + 5 (
Canadá, França, Alemanha, Itália,Japão, Rússia, Reino Unido e os Estados Unidos,
África do Sul, Brasil, China, Índia e México), que não teve um vencedor oficial pois
foi completamente interrompido com a visita do rei – filósofo de Minerva para
seu casamento com Katniss Gore, a presidente dos EUA naquela época.
Se estivesse sóbrio, Ariano teria se deleitado com a simples
ideia de falar sozinho sobre o assunto com a freira culta, surda e semimuda
sentada no banco de trás de sua Ferrari, mas o fato era que estava bêbado e
ainda tinha que se concentrar em não entrar com o carro no gramado verdíssimo
que ladeava, tanto na esquerda como na direita, a estrada. Ariano tinha certa
fama em Drummond, pois era o mais velho enteado do nobre virtual Platão Mahatma
Pendragon, mas também tinha uma certa fobia social e não conseguindo lidar com
a fama e com a atenção constante dirigida a ele, se tornara alcoólatra como o
padrasto.
Ele pensava nervosamente nesses fatos e tentava ficar feliz,
porque a freira era sua melhor amiga de infância e detestava o convento em que
vivera em Drummond, do qual o historiador a tinha acabado de tirar. Por ter se
distraído por alguns momentos, Ariano acabou cometendo o erro contra o qual se
prevenira: entrou com o conversível no gramado.
Desligou o carro em meio a praguejos da freira Clapeyra e
suspirou. O combustível estava acabando e não havia postos de gasolina em um
raio de vinte mil quilômetros, por isso resolveu dormir e continuar o caminho
até a montanha Tanâtos no dia seguinte, desta vez a pé.
Foi acordado de seu sono alcoolizado pelo barulho de um trem
– bala vulcanense que passava pela estrada e quase bateu na Ferrari. Olhou o relógio e percebeu que já era
madrugada. Sabendo que só conseguiria dormir de novo com mais quatro taças
cheias de vinho bacense ( que deixara em Drummond, no porão da mansão de sua
mãe), resolveu ouvir o Noticiário Intergaláctico no rádio.
“ Há algumas horas,
Fatlokipaladarel
Xcivokleklebiu Iccudnal, uma das
filhas do rei de Saturno, foi sequestrada pelo goblinense diplomata e
partidário da Tríade Distribggogramêõ – Kcuf Hashdoo –
Wofista Alzheimer. O rei Nosreg
Xcivokleklebiu Iccudnal avisou Hashdoo
por meio da recém – crackeada Deep Web que esse ato terá represálias
inimaginavelmente terríveis”, dizia o locutor em mercuriano.
_ Caramba... – murmurou Ariano em português ao ouvir aquilo.
_ Isso vai alterar muito o rumo da guerra...
_ De fato, Noé Dichardson. De fato. – sussurrou uma voz
enigmática em marciano.
O historiador olhou para o lado e viu um marciano vestido
como o Capitão Gancho, do filme Peter Pan, apontando uma flecha laser para seu
peito.
As portas do Salão Real se abriram. Ubberosajulietixal Xcivokleklebiu Iccudnal, sentada em seu magnífico trono de
princesa no centro da sala, viu dali a chegada de seu pai, um humano
desconhecido barbudo vestindo um terno com o brasão dos Dichardson estampado,
uma japonesa vestida como freira que cheirava a crack e Marilyn, a atriz humana
naturalizada minervense sobre a qual as amigas da princesa viviam falando. Os três
últimos estavam presos por duras correntes vulcanenses.